Neste mês celebrou-se o Dia da Criança, um dia dedicado aos direitos e assuntos que dizem respeito aos mais pequenos. Porém, chega uma altura na vida de todas as crianças, em que começam a deixar de o ser – a chamada pré-adolescência. Esta etapa é uma área algo nebulosa, porque existe entre a infância e a adolescência, que são consideradas como duas fases marcadamente distintas nos desafios que colocam a pais e filhos. Este crescimento e passagem para a adolescência é um dos aspectos fisiológicos, psicológicos e até culturais, mais natural e importante do desenvolvimento de qualquer ser humano. A transição é acompanhada pela conquista da individualidade, assim como pela crescente independência que se vai ganhando, emocionalmente e socialmente, da família. É neste percurso que os jovens descobrem quem são e o papel que gostariam de ter na sociedade. Esta fase implica diversas mudanças, quer na vida das crianças – físicas, emocionais, cognitivas, sociais – quer na vida dos pais e família – novas dinâmicas e adaptações nos papéis familiares.
A forma como os pais lidam com a transição da pré-adolescência, assim como com as consequentes alterações que simboliza, pode impactar significativamente os seus filhos e moldar o seu relacionamento com eles, por conseguinte é importante que esteja consciente dos aspectos a que deve estar atento.
O mesmo de sempre mas também diferente: sensivelmente por volta dos 10 anos muitos pais começam a notar diferenças nos seus filhos, contudo, elas parecem ser tão rápidas que podem sentir que não conhecem a “nova pessoa” que têm em casa. O exemplo mais ilustrativo disso são as mudanças físicas (barba, crescimento dos seios, mudança de voz), porém as crianças começam também a experienciar as emoções de forma cada vez mais intensa e várias destas estão relacionadas com o seu mundo social, que se vai tornando cada vez mais importante e complexo do que talvez fosse antes e o qual irá ter um papel crucial em esculpir a personalidade e identidade das crianças.
A importância dos (bons) amigos: a puberdade pode ser um período caótico e complicado para muitos pré-adolescentes, portanto é natural quererem falar sobre estes assuntos com outras pessoas da sua idade que estejam a passar pelo mesmo, pois dá uma sensação de ser valorizado, um sentimento de pertencer a um grupo com que se identifiquem, com o qual partilhem ideias, interesses e valores semelhantes. Naturalmente, isto fará com que haja mais vontade de passar tempo com os amigos e menos com a família.
A procura de independência: à medida que crescem os jovens vão sendo expostos ou procurando, ideias, formas de pensar e perspectivas que encaixem com a sua forma de ser, as quais serão inevitavelmente diferentes daquelas que os seus pais têm. Estas diferenças podem implicar discordar dos pais, desobedecer ou querer fazer diferente, o que pode causar tensão e a sensação de que os filhos estão a testar limites, o que muitas é o caso e é natural de acontecer porque faz parte desta etapa.
Os pais continuam a ser importantes: apesar do possível distanciamento entre filhos e pais, se houver uma relação prévia de apoio, carinho e comunicação aberta, os mais novos irão sempre olhar para os pais como uma base de segurança, à qual podem voltar e recorrer quando sentirem que precisam. A curto prazo, geralmente, as crianças vão procurar mais os amigos, contudo nunca se esqueça que a longo prazo tenderão a olhar para si na tomada de decisões relacionadas com valores e morais, portanto seja o melhor modelo que conseguir.
Nos primeiros anos de vida das crianças, o papel dos pais é guiá-las, mas ao longo do seu desenvolvimento este papel vai reduzindo, pois a criança ganha a capacidade de tomar cada vez mais decisões sozinha. Não obstante, os pais vão continuar a ser uma fonte de carinho, apoio emocional e segurança para os seus filhos, assim como uma fonte de auxílio em aspetos mais práticos, portanto os filhos vão continuar a gostar dos pais e a querer que estejam envolvidos na sua vida, mesmo que a sua atitude pareça muitas vezes contradizer isto. Todas as famílias têm altos e baixos durante estes anos de desenvolvimento e, nesse sentido, o mais importante é lembrar-se que se estiver disponível para eles, irão sempre procurar o seu apoio em diversos momentos, quer tenham 8, 18 ou 50 anos de idade.
Francisco Mano
Psicólogo Infanto-Juvenil
Equipa MindKiddo – Oficina de Psicología
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