Nesta publicação não irei focar-me particularmente em dicas ou sugestões para vos oferecer, pois este texto será mais semelhante a uma reflexão. Uma reflexão sobre a minha experiência pessoal e profissional, na interação com pais e filhos em acompanhamento psicológico. Na grande maioria das vezes, as crianças ou adolescentes que aparecem no meu consultório são levadas pelos seus pais, os quais procuram acompanhamento psicológico para os seus filhos, quase como um último recurso, por já não saberem o que fazer para os ajudar e sentirem um grande sofrimento na criança.
As queixas, dificuldades e preocupações expressas pelos pais podem variar desde situações de alguma aflição, como “a minha filha tem passado muito tempo calada ultimamente” ou “o meu filho mais novo tem estado a fazer algumas birras”, variando até frustrações acumuladas ou situações mais intensas “a minha filha tem chorado quase todos os dias” ou “o meu filho mais velho foi suspenso por ter agredido outra vez os colegas”. Ter capacidade de lidar com crianças nem sempre é fácil, mesmo nos melhores dias, e adicionando a estes acontecimentos a constante azáfama da sua semana – as refeições que tem que fazer, as atividades extracurriculares a que tem de os levar, os problemas médicos que possam surgir – torna-se tudo muito mais complicado.
Quando a duração, frequência ou intensidade dos comportamentos problemáticos dos mais pequenos ficam demasiado elevadas, pode sentir que não há solução ou que não sabe mais o que tentar. Nesses momentos corre o risco de confundir a criança com o problema, por isso nunca se esqueça que o problema são as atitudes ou comportamentos, não a criança. Uma ideia que me faz profundo sentido é que os comportamentos dos mais novos não devem ser vistos necessariamente como comportamentos bons ou maus, mas sim enquanto comportamentos que nós conseguimos perceber e comportamentos que nós não conseguimos decifrar. As crianças, tal como nós, agem de determinada forma por determinada razão, mesmo que essa razão não seja aparente para nós, e por vezes, nem para elas próprias. É o dever dos adultos, enquanto pessoas com maior maturidade, conseguir tolerar a sua própria frustração e ajudá-las a fazer sentido das adversidades que estão a experienciar.
Referi vários aspectos que tornam desafiante lidar com os mais novos, precisamente para transmitir que independentemente da sua complexidade, não há impossíveis. Todas as histórias têm dois lados e a parte verdadeiramente mais bela de qualquer caso que tenho acompanhado são os momentos em que me dirijo aos pais e pergunto quais as qualidades ou pontos positivos que identificam nos seus filhos. Esta simples pergunta permite que se distanciem, por breves momentos, das suas angústias e se foquem naquilo que verdadeiramente mais apreciam nas suas crianças. Curiosamente, e ao contrário daquilo que possa esperar, as qualidades mais referidas pelos pais não são um adjetivo específico ou uma característica concreta, em vez disso, a maioria refere o seguinte: “o meu/minha filho(a) tem um bom coração”
Termino esta reflexão assente nesta frase, que reflete aquilo que considero mais puro e mais bonito no olhar de um pai ou mãe sobre os seus filhos, esta capacidade de conseguirem ver, no meio do caos e confusão, aquilo que de melhor os mais pequenos têm. Depois de uma tempestade há sempre a hipótese de haver um arco-íris e no final de contas a gratidão é um dos bens mais preciosos que pode ter para valorizar aquilo que mais brilho traz aos seus olhos quando pensa na sua criança.
Francisco Mano
Psicólogo Infanto-Juvenil
Equipa MindKiddo – Oficina de Psicología
Deixe um comentário