Face ao período em que vivemos, e com meses de cansaço acumulados, é natural que possam coexistir emoções ambíguas no seio da família e às quais os mais novos não estarão imunes: medo, tristeza, preocupação, zanga, revolta, calma, esperança, otimismo, solidão, frustração, aborrecimento, diversão, ansiedade… Se para os adultos a gestão emocional nesta fase pode ser um desafio, para as crianças, cujas áreas cerebrais responsáveis pela capacidade de planeamento, controlo de impulsos e regulação emocional ainda se encontram em fase de maturação, regular estas montanhas russas de emoções pode ser tarefa complicada. Por esse motivo, os mais novos contam com os seus pais para os apoiar, mais do que nunca, na gestão emocional e comportamental… Sentindo-se, também eles, a andar numa montanha russa. Validar os estados emocionais que as crianças manifestam, evitando desvalorizar ou criticar, é o primeiro passo para ajudar no momento de acalmar e tranquilizar, porque isto de lidar semana atrás de semana com a dúvida e a incerteza, sempre a espreitar, é mesmo exigente.
Embora seja algo que se arrasta há (demasiados) meses, ajuda recordar que é uma situação atípica que é transitória.
Pais e filhos devem filtrar a informação a que acedem. A exposição constante a informação detalhada associada a esta pandemia pode ser potencialmente traumático. As crianças devem ser protegidas de informação desnecessária e quaisquer dúvidas que tenham devem ser respondidas com verdade, omitindo detalhes desnecessários e usando uma linguagem ajustada à sua faixa etária. Acima de tudo, as crianças deverão encontrar em casa um espaço onde se sentem tranquilas e seguras, onde há abertura para falar do que pensam e sentem.
Este é tempo de dar ainda mais atenção aos três pilares essenciais do nosso bem-estar global: sono, alimentação e atividade física. Dentro de novas rotinas transitórias, importa continuar a valorizar o sono (as rotinas, a duração e a qualidade); continuar a privilegiar uma dieta equilibrada e usar a criatividade para continuar a estimular o movimento (aulas de ginástica via vídeos, jogar à macaca em casa (giz no chão tende a ser inócuo), dançar… A meditação é um excelente aliado para adultos e crianças. É, também, contexto para, ainda com mais disciplina, existir diariamente “tempo especial”, ou seja, que se reserve sempre alguns minutos para um momento de brincadeira em família, onde nada mais interessa para além de usufruírem da companhia uns dos outros e onde a atenção dos pais em relação aos filhos é plena.
Quer para crianças como para adultos, deixo a sugestão de duas tarefas:
– escrever um diário. A escrita tem um importante efeito terapêutico;
– exercício da gratidão: diariamente anotar num papel, que se guarda depois numa pequena caixa, e que se revisita sempre que se pretenda, algo pelo qual se está grato naquele dia.
Inês Afonso Marques
Psicóloga Clínica
Gestão da área infantojuvenil
Oficina de Psicologia
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