A brincadeira é, por excelência, a principal tarefa de desenvolvimento infantil e o principal meio de aprendizagem de que as crianças dispõem.
Alguns pais vão partilhando connosco, psicólogos, as suas dúvidas quanto a boas práticas que os guiem quando brincam com os seus filhos. Acredite, é mais simples do que parece se partirmos do pressuposto de que são precisamente as crianças os verdadeiros especialistas na arte da brincadeira, e se lhes permitirmos que nos orientem!
Apresento um resumo com algumas estratégias que, na nossa prática profissional, têm sido muito úteis e prolíferas no estabelecimento de vínculos afetivos com os mais pequenos e no desenvolvimento de competências quer de cuidadores, quer das crianças acompanhadas:
- Deixe as ordens e instruções “à porta”. Conceda que seja o seu filho a guiá-lo na brincadeira através da sua imaginação e criatividade, e não se preocupe com o convencionalmente “certo” e “errado”. Não há “certo” ou “errado” quando se brinca: há momentos de experimentação livre, de criação. Já imaginou como seria dedicar-se a um hobbie e ter alguém a avaliar constantemente o seu “desempenho”? J;
- Imite os seus filhos e vá seguindo as suas propostas e dicas (desde que razoáveis, claro!);
- Adeque o ritmo da brincadeira ao ritmo do seu filho. As crianças pequenas repetem, tendencialmente, as mesmas brincadeiras por várias vezes. Ainda que porventura isto possa ser aborrecido para os pais, pense que é assim que os mais pequenos aprendem, ensaiam competências, adquirem mais confiança em si mesmos, e treinam competências de atenção e de concentração numa mesma tarefa;
- Evite um clima de competição, já que a brincadeira é uma das poucas atividades em que as crianças têm verdadeira perceção de controlo. Obviamente que, enquanto adulto, terá mais facilidade em construir uma belíssima e impressionante torre de legos, mas não será isso que importa nestes momentos;
- Foque a atenção no seu filho, não se distraia da brincadeira, e demonstre interesse genuíno. Será preferível que brinquem por períodos mais curtos, mas plenos em atenção, do que por períodos mais alongados em que se dispersa frequentemente;
- Vá comentando e descrevendo as ações do seu filho e evite perguntas. Deste modo, estará a focar-se no processo, e não no resultado da brincadeira, ao mesmo tempo que estimula o desenvolvimento da linguagem;
- Elogie partilhas entre os seus filhos quando estes brincarem em conjunto;
- Encoraje a resolução autónoma de problemas, dentro do adequado para a idade do seu filho, tendo em vista o reforço da sua autoconfiança, autoestima e autonomia;
- Perante comportamentos menos adequados, recorra primeiro à técnica da distração, desviando o foco para outra brincadeira e retomando a brincadeira anterior perante novas manifestações de comportamento apropriado. Interrompa a atividade se o comportamento inadequado persistir, explicando o porquê da interrupção;
- Por hábito, prepare com alguma antecedência o término da brincadeira, numa perspetiva de prevenção de birras;
- Se possível, estabeleça períodos “diários” (ou com a regularidade viável) de brincadeira, dando assim uma ideia de continuidade, de novas oportunidades de tempo conjunto, de reforço de laços e diversão em família!
Em resposta à questão inicialmente lançada no título: não, não há regras. O que existe são recomendações e diretrizes consideradas como boas práticas e fortalecidas pela evidência recolhida ao longo de décadas de investigação.
Que as estratégias partilhadas possam constituir um bom contributo para momentos felizes passados em família.
Daniela Muro e Silva
Psicóloga Infanto-Juvenil
Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia
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