
Três Respostas a Três Perguntas
- Qual o papel do sono na vida das crianças e jovens?
O sono é absolutamente crítico quer para a saúde física, quer para a saúde mental de qualquer indivíduo. Quando falamos de bebés e de crianças pequenas, sabemos que estas precisam de mais horas de sono, de qualidade, para se desenvolverem e crescerem saudavelmente. O número de horas de sono necessários a um desenvolvimento saudável (e, mais tarde, desempenho) vai diminuindo à medida que nos movimentamos rumo a outras fases de vida (adolescência, vida adulta, velhice), mas a sua pertinência permanece ao longo da nossa existência.
O sono tem um papel fundamental ao nível da consolidação de memórias, da focalização e da manutenção de níveis adequados de atenção nas tarefas, da capacidade de planeamento, das capacidades de tomada de decisões e de resolução de problemas, da resposta psicomotora, e não só. Qualquer uma das funções elencadas participa ativamente nos processos de aprendizagem, na disponibilidade e motivação para o envolvimento nas tarefas académicas.
Por outro lado, o sono tem também um papel muito importante no plano da regulação emocional e disponibilidade para a interação social.
Em suma, o contributo de uma boa rotina de sono é, efetivamente, vital de uma forma holística; conecta todas estas vertentes através das quais nos expressamos e vivemos a vida – comportamento, emoção e cognição.
- Quais são as consequências expectáveis de uma má rotina de sono na vida de uma criança ou de um jovem?
Como referido, o sono desempenha múltiplas funções e é base imprescindível a um desempenho adequado a vários níveis.
Uma má rotina de sono é, como tal, fragilizante para a capacidade de aprendizagem e para a regulação do próprio comportamento (verifica-se tendência para mais agitação psicomotora em crianças mais pequenas e, pelo contrário, tendência a lentidão, em adolescentes, por exemplo) e relacionamentos interpessoais.
As crianças e jovens estão numa fase de vida em que as aprendizagens escolares e académicas são centrais, em que são diariamente desafiados e estimulados nesse sentido.
Uma aprendizagem eficaz e comportamento apropriado em sala de aula implicam certos pré-requisitos, nomeadamente, uma adequada capacidade de atenção e de memória (memória de trabalho, memória a curto e a longo prazo), capacidade de controlo inibitório (isto é, controlo de impulsos), capacidade de planeamento, entre outras funções que concorrem para o seu sucesso.
Quando há problemas ao nível do sono, há um comprometimento nestas funções. A tendência será para que as aprendizagens fiquem então, também elas, comprometidas, mas não só. Também a nível emocional, sabemos que a privação de sono aumenta tendencialmente a irritabilidade – porque diminui a capacidade de tolerância à frustração -, e que crianças com dificuldades de aprendizagens pendem para um declínio na sua motivação para as atividades escolares (desmotivam mais facilmente), na sua perceção de autoeficácia (aquilo que acreditam ser capazes de fazer eficazmente), no seu autoconceito (o modo como se veem) e na sua autoestima.
- O confinamento obrigatório e pandemia impactaram as rotinas de sono dos portugueses?
Não há ainda uma resposta conclusiva a esta pergunta, mas, pelo seu cariz reflexivo, consideramos que é uma questão pertinente. Que nos conste, não foram, até ao momento, publicados estudos controlados que demonstrem, empiricamente, que a pandemia tenha impactado, ou não, as rotinas de sono previamente estabelecidas.
Pese embora, não será disparatada a suposição de que o confinamento e a alteração de rotinas tenham interferido também ao nível dos horários habituais de sono para cada família, para além da vivência emocional pautada pela preocupação e ansiedade despoletadas pela pandemia.
De forma curiosa, um inquérito conduzido por várias universidades em Portugal, coordenado pela médica neurologista Dra. Teresa Paiva, evidenciou, numa amostra de 5500 portugueses entre os 18 e os 99 anos, uma “pequena deterioração” (sic) ao nível do sono durante o período de confinamento.
Ainda será precisa investigação adicional para que se compreenda, mais a fundo, o impacto da pandemia ao nível das rotinas de sono, e essa será certamente uma via de exploração interessante.
Daniela Muro e Silva
Psicóloga
Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia
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