
Crescemos numa sociedade que tem alimentado os estereótipos de género durante séculos. Por isso, todos nós temos heranças da desigualdade de género e a maioria dos pais nem se apercebe que tem as suas próprias expectativas diferentes no que toca ao que deve ser a educação de um menino ou uma menina. Porém, é importante que os pais tenham consciência que na criação de novas gerações podem ter também um papel que contribuirá para a eliminação de estereótipos e para uma sociedade menos discriminatória e mais igualitária, ao educarem os seus filhos para a equidade de género.
Em consulta de Psicologia é evidente verificarmos uma educação diferenciada que algumas famílias dão aos filhos de acordo com o seu género, com consequências a longo prazo a nível emocional. Por exemplo, é mais permitido e aceitável que as meninas chorem, enquanto que os meninos sentem que não podem demonstrar reações de maior vulnerabilidade emocional. Por outro lado, as reações de maior irritabilidade e recurso à força física por parte dos meninos já são mais toleradas. Este facto tem implicações na própria capacidade de regulação emocional das crianças e adolescentes. Há estudos que indicam que há uma menor procura de ajuda profissional a nível de saúde mental por parte dos homens, que é influenciada por crenças estereotipadas (como por exemplo: “O homem não sofre; o homem é forte”).
Para promover a equidade de género em casa os pais devem:
Ser um exemplo! As crianças aprendem observando os comportamentos e as relações que as rodeiam. Se houver comportamentos estereotipados em casa, maior será a probabilidade de os seus filhos os reproduzirem ao longo da vida.
Dar espaço para os filhos serem e fazerem aquilo que mais gostarem, para explorarem e descobrirem os seus interesses individuais, dando liberdade aos filhos para se expressarem e fazerem escolhas, não as julgando, sejam elas quais forem. Por exemplo, os pais não devem colocar restrições na escolha dos brinquedos e brincadeiras. É interessante verificar que, quando há em casa ou na escola todo o tipo de brinquedos e, se for dada essa liberdade, a menina pode escolher jogar à bola ou brincar com os carrinhos, ou o menino brincar com o boneco ou os utensílios de cozinha, e vice-versa. Quanto mais diversificadas forem as brincadeiras, mais ricas serão as aprendizagens.
É importante também não limitar as escolhas das atividades extracurriculares ou desportivas com base em rótulos do que supostamente é para menino ou para menina, ou seja, aceitar se a filha quiser praticar hóquei em patins ou esgrima, ou se filho quiser praticar dança ou ginástica…
Esclarecer que a equidade de género não pretende que homens e mulheres sejam todos iguais, mas que todos têm de ter as mesmas oportunidades de acesso às mesmas ferramentas para chegarem onde quiserem, sem serem condicionados à partida por ser um rapaz ou rapariga.
Promover o desenvolvimento de espírito crítico, ajudando as crianças e jovens a questionar padrões estabelecidos e a refletir sobre questões como: faz sentido que um homem ou mulher ganhem salários diferentes quando desempenham a mesma tarefa? Faz sentido que uma rapariga tolere que um rapaz seja violento no namoro porque é rapaz? Faz sentido que não se escolha determinado percurso académico porque é uma profissão “de mulheres” ou “de homens”?
Demonstrar abertura para clarificar as dúvidas que surgirem e conversar com os filhos sobre as mensagens implícitas que são assentes em preconceitos em determinadas histórias infantis, filmes ou na comunicação social, de modo a que os filhos percebam que as meninas não têm de ser indefesas como as princesas, ou que só os meninos podem ser corajosos como os super-heróis. Ou que as meninas podem expressar as suas emoções e que os meninos devem reprimi-las e ser sempre fortes…
Raquel Carvalho
Psicóloga clínica na equipa infanto-juvenil da Oficina de Psicologia
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