
Os pais têm muitas maneiras ou estilos diferentes de educar os filhos. Cada pai e cada mãe vai adotando estratégias parentais de acordo com a sua personalidade, os seus valores, a forma como foi educado e de acordo com a informação que vai aprendendo e a sua experiência ao longo do desafiante percurso da parentalidade. Isto não é novidade. Mas sabia que a literatura tem demonstrado que existem diversas formas possíveis através das quais pode, involuntariamente, fomentar ansiedade no seu filho, sendo uma delas o estilo de educação parental?
Neste artigo iremos focar-nos num estilo de educação superprotetora, comum em pais mais ansiosos. São pais que protegem em demasia, não permitindo que o filho faça determinadas atividades, mesmo sendo seguras e adequadas à sua idade e tendo supervisão de adultos. Por exemplo, não deixam que o filho vá à visita de estudo, ou vá dormir a casa de um amiguinho, pois não se sentem confortáveis com o facto de os filhos fazerem atividades longe de casa sem os pais. Insistem em fazer coisas pelos filhos, mesmo que estes já tenham idade e habilidade para o fazer. Pais que não deixam, por exemplo, a filha adolescente ir com as amigas ao cinema deslocando-se de transportes públicos. Pais que não querem que o filho pratique determinado desporto escolar com receio que se magoe gravemente…
De que modo estas atitudes podem ter impacto no crescimento de uma criança? O que a investigação e a experiência clínica nos indica é a tendência para as crianças e adolescentes superprotegidos para se tornarem mais dependentes, mais imaturos, menos confiantes e com maior risco de desenvolverem perturbações de ansiedade. Ora vejamos… Como podem as crianças que são superprotegidas ter oportunidades para aprenderem a ser autónomas e resilientes? Como irão lidar com o desconhecido e a mudança se estão habituadas a manter-se sempre numa zona de conforto? Ser privadas de experiências essenciais ao seu crescimento não lhes permitirá desenvolver, de forma eficaz, competências de regulação emocional, competências sociais, competências de resolução de problemas…
Para ajudar a dar resposta ao título deste artigo, ou seja, “serão as minhas preocupações, como pai ou mãe, adequadas ou excessivas? serei realmente superprotector(a)?”, a conceituada investigadora e psicóloga clínica Cynthia G. Last sugere um conjunto de questões que lhe vão permitir fazer um exercício de introspeção:
– Preocupo-me com a segurança do meu filho mais do que deveria ou mais do que faz sentido?
– Impeço o meu filho de fazer coisas que outros pais de outras crianças/adolescentes da mesma idade permitem?
– Trato o meu filho como um bebé? Faço por ele coisas que já deveria fazer sozinho?
– Tenho muita dificuldade em estar separado(a) dele?
– Quando não estou com ele, preocupo—me com frequência com o facto de algo mau poder acontecer?
– Quando o meu filho quer evitar uma situação (que não é perigosa ou problemática) cedo facilmente?
– Costumo exagerar quando tem dores ou ferimentos ligeiros, ou doenças comuns na infância?
É importante que não se culpabilize caso verifique que respondeu afirmativamente à maioria das questões. Obviamente que os pais têm a melhor intenção em querer proteger os filhos. Porém, se nota que exerce a parentalidade adotando atitudes tendencialmente superprotectoras e, sabendo que estas podem ter um efeito contraproducente na vida do seu filho, reflita sobre o que pode mudar e como pode equilibrar os níveis de preocupação e proteção nas suas atitudes e decisões do quotidiano. Se necessário, procure aconselhamento com um profissional de saúde.
Raquel Carvalho
Psicóloga Clínica
Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia
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